Iniciativa apoiada pelo Banco do Nordeste tem como objetivo a recuperação e caracterização de milhos “crioulos” regionais
O sábado, dia 03, começou com muita informação no Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG. Um dia de campo gratuito reuniu produtores rurais e estudantes no campus para debater projetos sobre milhos crioulos, plantas forrageiras e cereais que possuem potenciais adaptativos e econômicos no contexto do Norte de Minas. O evento foi uma realização do Núcleo de Estudos em Produção e Tecnologia de Cereais (NEProTeC) e do Laboratório de Biotecnologia do ICA em parceria com o Banco do Nordeste por meio do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (BNB/FUNDECI).
Primeiro, foram realizadas palestras sobre plantios, desenvolvimentos, colheitas e armazenamentos de milho crioulo, palma forrageira, sorgo e trigo no auditório do bloco C. Em seguida, os participantes visitaram áreas de plantio na estação experimental do campus. Nesta etapa, houve troca de experiências sobre aspectos práticos de manejos envolvendo as culturas abordadas no evento.
Parceria para resgate de variedades “crioulas”
No dia de campo, também foram apresentados os trabalhos realizados e produtos obtidos a partir do projeto de pesquisa intitulado “Melhoramento Participativo de Milho com Enfoque na Agrobiodiversidade do Semiárido Mineiro”, iniciado em 2017 por meio de parceria entre o Banco do Nordeste e a UFMG (convênio 2017.0006 BNB/FUNDECI/UFMG). Entre os objetivos centrais da iniciativa estão o resgate e a caracterização (por meio quantificação da diversidade) de milhos “crioulos” regionais, como forma de minimizar o franco processo de perda e escassez destes tipos de materiais. “As variedades ‘crioulas’ são consideradas mais rústicas, podendo alcançar produções satisfatórias mesmo na ausência de insumos químicos industrializados. Também costumam ser bastante tolerantes às irregularidades de chuvas e exposições a doenças e pragas”, explicou o coordenador do projeto e professor Demerson Arruda Sanglard.
De acordo com o professor, o diferencial deste projeto foi utilizar-se de técnicas biotecnológicas pertinentes ao melhoramento “clássico”, porém direcionadas para o aumento da variabilidade, ao contrário dos programas de melhoramento convencionais. “Os resgates resultaram na recuperação de preciosos e escassos acessos ‘crioulos’, os quais foram usados no desenvolvimento de 18 novas combinações varietais. Atualmente, o projeto encontra-se em fase de difusão das sementes, já tendo ocorrido 20 ocasiões de repasses da coleção envolvendo diferentes comunidades, associações e agricultores independentes. Além disso, existem mais plantios em andamento específicos para multiplicação, visando ampliar o alcance do projeto para o semeio na próxima época de chuvas (11/2022 a 02/2023)” , afirma o coordenador. A estratégia será enviar estoques com kits de sementes identificadas, objetivando potencializar as ações de difusão através de unidades da EMATER e Secretarias de Agricultura de Municípios.
Ainda segundo o professor, por meio desta parceria “o Banco do Nordeste (FUNDECI) deixa um legado com a criação de um Programa de Melhoramento de Plantas no Norte de Minas Gerais, duradouro e dinâmico no tempo. Os próprios agricultores-experimentadores darão retornos de informações sobre os desempenhos dos materiais e seus saberes, o que direcionará novas introduções e resoluções de demandas mais específicas”. A grande variabilidade dos genitores que originaram esta coleção potencializará as chances de adaptação em diferentes ambientes. As comunidades selecionarão naturalmente e manterão os materiais que lhes forem oferecidos, compartilhando-os com suas vizinhanças. Desta forma, durante os sucessivos ciclos de cultivo, haverá a tendência de surgimento de novas variedades, o que corrobora para a retroalimentação do Programa. O corpo técnico do ICA/UFMG estará atento a estas questões, de modo a manter e/ou gerar novas combinações de estoques de sementes.