Elaborado por especialistas, documento também reúne orientações sobre a gestão de atividades essenciais e destaca que não há previsão de data para retomada presencial
Higienização constante de mãos e equipamentos, adaptação de espaços semiabertos nos campi para a realização de aulas, notificação de casos suspeitos e confirmados na comunidade universitária – seguida das medidas necessárias para evitar a disseminação do novo coronavírus – são parte de uma série de recomendações que compõem a proposta de Protocolo de biossegurança, adequação do espaço físico e monitoramento da covid-19 na UFMG.
Elaborado por especialistas da Universidade, que formaram grupos de trabalho para cada um dos três grandes temas, o documento visa orientar o planejamento da retomada de atividades presenciais por parte das unidades acadêmicas e administrativas, as medidas relativas às atividades essenciais, como as pesquisas destinadas ao combate à covid-19, e ações emergenciais, como o esforço de resgate do acervo do Museu de História Natural e Jardim Botânico, atingido por um incêndio, em 15 de junho.
Uma comissão formada no âmbito Conselho Universitário, com participação de servidores docentes e técnico-administrativos em educação e estudantes, fará o acompanhamento do processo de implantação de suas diretrizes.
O protocolo enfatiza que ainda não há previsão de data para retorno da comunidade aos campi – que dependerá das condições apropriadas e da liberação das autoridades do estado e do município – e que essa volta será gradual e extremamente cuidadosa. Além disso, diz o documento, mesmo depois da retomada, “as atividades remotas ainda deverão ser mantidas por meses para reduzir a circulação de pessoas na Universidade”. A UFMG está reiniciando o primeiro período letivo de 2020 por meio do ensino remoto emergencial.
“O processo de enfrentamento da pandemia é longo e exige o cumprimento de várias etapas. A elaboração do protocolo é uma delas”, afirma a reitora Sandra Regina Goulart Almeida. Ela salienta que o documento não pode ser interpretado como um “sinal verde” para o retorno das atividades presenciais – “a maior parte delas continuará sendo executada a distância” –, mas como parte essencial de um processo gradual, organizado e responsável de planejamento para quando a retomada for autorizada. “Esse documento reúne diretrizes que nos possibilitarão planejar, quando autorizado pelas instâncias sanitárias, o retorno com a máxima segurança possível”, sustenta a reitora.
De acordo com a professora Cristina Alvim, coordenadora do Comitê Permanente de Enfrentamento da Covid-19, a elaboração do protocolo antes que se possa sequer prever a volta de professores, estudantes e servidores técnico-administrativos em educação aos campi baseia-se na preocupação com o prazo para o planejamento necessário. “Será preciso providenciar uma série de adaptações, alocar recursos, produzir campanhas educativas. O processo de planejamento exige tempo e organização”, afirma Cristina, lembrando que a produção dos grupos de trabalho se apoiou em conhecimento acumulado sobre a pandemia, que cresce exponencialmente.
Posturas coletivas e individuais
Na área da biossegurança e das medidas de caráter sanitário, o protocolo começa tratando de procedimentos no acesso aos prédios. Na chegada, é sugerido que as pessoas sejam orientadas sobre o uso correto das máscaras faciais e a necessidade de evitar aglomerações e saudações com contato físico, por exemplo.
O protocolo recomenda que haja indicações para a circulação segura em áreas comuns, que os elevadores sejam utilizados apenas em situações excepcionais e que sejam instalados equipamentos para a higienização das mãos na entrada dos edifícios e em outros pontos estratégicos.
A virologista e professora Erna Kroon, do Instituto de Ciências Biológicas, que coordenou o GT de biossegurança, afirma que o uso dos banheiros também é tema de recomendações importantes. No momento da descarga, o tampo da privada deverá estar fechado, para evitar a contaminação do ambiente, e o papel higiênico ficará disponível fora das cabines, também para prevenir contaminação. “Recomendamos também medidas de postura pessoal como manter cabelos presos, preferir calçados fechados e não usar adornos como anéis, colares e relógios, que são focos potenciais de contaminação”, relata.
Os protocolos de biossegurança incluem ainda, entre outros tópicos, treinamento das pessoas que trabalham com limpeza, disponibilidade de equipamentos de proteção individual e produtos de higienização, além de desinfecção e regras para utilização dos ônibus internos, no caso do campus Pampulha. “A população da UFMG é formada, em sua maioria, por pessoas que têm noção da importância das medidas de segurança. Esperamos adesão de todos, em favor da redução de riscos e da manutenção da saúde da comunidade”, diz Erna Kroon, acrescentando que podem ocorrer mudanças eventuais nos protocolos à medida que surjam novas informações e evidências científicas. O GT foi composto também por professores da Medicina, Enfermagem, Farmácia, Veterinária, Odontologia, do Departamento de Química e da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
Espaços ventilados
O cenário projetado para a volta gradual às atividades presenciais – a ser definido quando houver sinalização por parte das autoridades sanitárias –, nos campi da UFMG não permite imaginar, por exemplo, a utilização de salas de aula em sua capacidade máxima, e ainda não se recomenda o uso de auditórios sem janelas, com ar-condicionado. Uma das soluções propostas pelo GT que se dedicou à adequação de espaços físicos é a utilização de ambientes bem ventilados e relativamente protegidos de sol e chuva, como os pilotis dos centros de atividades didáticas do campus Pampulha e áreas comuns de outras unidades. “Trata-se de solução eficiente e de execução simples e barata”, justifica o professor Mauricio Campomori, da Escola de Arquitetura, que coordenou o GT para adequação de espaços físicos.
O grupo de trabalho, formado por professores da Arquitetura e técnicos do Departamento de Planejamento e Projetos, da Pró-reitoria de Administração, recomenda também o recurso amplo à comunicação gráfica para orientação sobre o uso das salas de aula. Um exemplo: enquanto só for possível utilizar parte das carteiras, para garantir distância mínima entre os estudantes, pequenos cartazes com textos e ilustrações vão identificar os locais interditados. A referência é a ocupação de 50 metros quadrados por 15 pessoas, mantendo-se distância entre elas de dois metros.
Os especialistas recomendam estabelecer, se necessário, rodízios em base diária para a ocupação das salas de aula, assim como escalas de horário; reduzir a circulação simultânea de pessoas; evitar mistura de turmas, trocas de salas, compartilhamento de materiais e equipamentos, para facilitar procedimentos de higienização dos ambientes e objetos; considerar a adoção de escalonamento de horários para entradas, saídas e intervalos, evitando o uso simultâneo das dependências.
Cartilhas com forte apelo gráfico estão sendo produzidas para orientação à comunidade. “Nossa preocupação é elaborar diretrizes de fácil compreensão para a grande maioria das pessoas, que não está acostumada a lidar com remanejamento espacial”, afirma Mauricio Campomori. Em sua avaliação, as adaptações no espaço dependerão mais de trabalho e organização que de investimentos vultosos.