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18 / abr / 2019
Saberes indígenas e educação intercultural marcam entradas de indígenas na UFMG

Estudantes de diferentes etnias vivenciam a troca entre os saberes tradicionais e o conhecimento científico

A estudante de Agronomia do ICA, Neilma Xacriabá. Foto: Vanessa Magalhães/UFMG

A estudante de Agronomia Neilma Rodrigues Souza, 21 anos, ingressou em 2019 no  Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, em Montes Claros. Vinda da Aldeia Tenda Rancharia, município São João das Missões, no norte de Minas, a aluna Xakriabá espera integrar no curso os  saberes tradicionais com os  conhecimentos científicos para  ajudar sua família e seu povo. “Meu pai me ensinou que quando o vento sopra pela esquerda, é sinal de chuva e próprio para o plantio. Ele sonha com esta minha graduação para trabalharmos juntos.”

Em maio de 2019, o professor de ensino médio vindo da Aldeia Sumaré 1, a segunda maior das 36 existentes em São João das Missões, Érick Xakriabá, 26 anos,  fará parte da nova leva de alunos da UFMG  que se habilitará em Ciências da Vida e da Natureza, uma das quatro habilitações ofertadas na Formação Intercultural de Professor Indígena. Iniciativa da Faculdade de Educação, o FIEI, habilita educadores para atuarem no Ensino Fundamental e no Ensino Médio de suas respectivas comunidades.

Érick ingressou neste ano em Odontologia, um dos seis cursos regulares de 2019 que teve um processo seletivo para preenchimento de 12 vagas suplementares para estudantes indígenas. “Quando a gente chega na UFMG estranha o conhecimento científico que tem que provar tudo. Mas como dizem nossos anciãos e pajés: é um pé aqui, onde está este tipo de conhecimento, que deve ser filtrado para retornar a aldeia, de onde trazemos nossos saberes e nossa sabedoria.”

Após passar pelo Enem 2018, aos 57 anos,  o indígena urbano Eni Carajá, da etnia Karajá, da Ilha do Bananal, em Tocantins, cursa Antropologia na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich). Ingressou na UFMG por meio de cotas indígenas e para pessoas com deficiência. Em 2018, a Universidade recebeu pela primeira vez cotistas com deficiência física em cumprimento à Lei 13.409/2016. Conselheiro da Saúde no enfrentamento da hanseníase e com atuação em defesa dos idosos e pela igualdade racial, Eni Carajá aponta para a importância da formação acadêmica que leve em consideração os conhecimentos práticos da militância social. “Ultrapassar os muros da UFMG não foi fácil, mas eu acredito na efervescência do saber da academia que deve ser esquentado pelo saber cotidiano”.

O  tutor do projeto Conexões de Saberes Indígenas, Fernando Vale, professor do Departamento de Botânica do Instituto de  Ciências Biológicas (ICB), avalia que  “a entrada de diferentes etnias na UFMG, oriundas de diversos estados, tem um potencial grande de fundir saberes indígenas e acadêmicos, possibilitando uma troca rica de aprendizados para eles, os não indígenas e os docentes, que são levados a perceber que o Brasil é muito maior do que se imagina.”

Veja o vídeo da TV UFMG:

Entrevistados:  Fernando Vale (Tutor dos estudantes/Programa Conexões de Saberes Indígenas), Érick Xakriabá (estudante de Odontologia), Neilma Xakriabá (estudante de Agronomia) e Eni Carajá (estudante de Antropologia)
Equipe: Soraya Fideles (produção e reportagem), Vanessa Magalhães (produção e imagens/Instituto Ciências Agrárias), Antônio Soares e Cássio de Jesus (imagens), Otávio Zonatto (edição de imagens), Flávia Moraes (edição de conteúdo)