A iniciativa conta com três projetos voltados para a inclusão de pessoas com necessidades especiais e alunos estrangeiros que ingressam na universidade
Com o objetivo de acolher e possibilitar o convívio de pessoas com necessidades especiais e também estrangeiros na universidade, o Instituto de Ciências Agrárias, campus da UFMG em Montes Claros, iniciou este ano o Pro-ICA: Programa de Inclusão, Convívio e Acolhimento. O programa reúne três iniciativas que promovem a acolhida dessas pessoas desde a intenção de ingresso à universidade até a sua permanência no campus. É desenvolvido com o envolvimento de professores, técnico-administrativos e alunos bolsistas e voluntários.
A proposta surgiu a partir do projeto “Somos todos diferentes – Inclusão Social e acessibilidade no campus Montes Claros”, realizado desde 2016 e vinculado ao Núcleo de Acessibilidade e Inclusão da UFMG. “Nosso objetivo, no Projeto Somos Todos diferentes, é promover a inclusão da pessoa portadora de alguma deficiência. Esperamos transformar a vida do acadêmico, de forma que ele se sinta confortável e acolhido e tenha melhor aproveitamento do estudo. Nos empenhamos para que eles tenham os seus direitos garantidos na universidade”, explicou a professora do ICA e coordenadora do Programa, Claudia Regina Vieira.
No projeto, o atendimento é particular, de acordo com a demanda do aluno. A equipe intercede para melhoria da mobilidade ou para o acompanhamento individual em sala de aula, quando há a necessidade. “O que fazemos é ver a demanda do aluno, estudar essa demanda, ver de que forma é possível que ele se sinta mais incluído. Conversamos com os professores deste aluno, quando é necessária uma atenção especial a ele”, reforçou a professora. O projeto também prevê a realização de oficinas na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (APAE).
Sony Franthiesco Caldeira tem 28 anos, cursa o 3º período de Administração no ICA e também é estagiário do Setor de Infraestrutura da universidade. Sony é cadeirante e, desde o seu ingresso na universidade, o campus passou por algumas adaptações a fim de facilitar sua mobilidade pelo espaço. “É aquela sensação de poder me deslocar sem depender dos outros, uma sensação de liberdade, de que eu mesmo posso fazer o que preciso. Com as cotas para deficientes físicos, acredito que cada vez mais vai ter demanda para isso. O quanto antes a instituição puder se adequar para este público, é melhor para a UFMG e para o estudante que vai ser atendido ”, disse.
O diretor da unidade acadêmica, professor Leonardo David Tuffi Santos, ressalta que a universidade tem se preparado ao longo dos anos pra atender de forma completa e ampla à comunidade. “Este é o primeiro ano que a gente recebe alunos das cotas para deficientes físicos, o que é um desafio. A universidade vem se preparando para acolher estes alunos, não só em relação à infraestrutura, mas também na questão pedagógica e didática com ferramentas que permitam que estes alunos consigam cursar na plenitude as disciplinas e conteúdos previstos na matriz curricular de cada curso”, reforçou o diretor.
Em março deste ano, a reitora Sandra Regina Goulart Almeida esteve no campus para a inauguração de duas plataformas elevatórias, adaptações implantadas no fim de 2017 para melhorar a acessibilidade no campus. As plataformas foram instaladas em dois prédios, um deles é o bloco C, onde estão localizadas salas de aula, laboratórios, gabinetes de professores e o auditório de eventos da instituição; e outro foi o prédio da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), que gerencia a assistência estudantil na UFMG.
Educar para a diferença
Com o andamento da iniciativa, apareceram novas demandas na universidade e o que era um projeto pontual se transformou num Programa para contemplar novas questões. Os estudantes com necessidades especiais, matriculados no Ensino Médio da rede pública do município, conhecem o campus regional da UFMG e se sentem aptos para ingressar na universidade? “Temos essa questão: algumas vezes, o aluno com deficiência acha que não é capaz de entrar para a universidade. Então, precisamos atuar na base e mostrar para esse aluno de Ensino Médio que ele tem essa oportunidade, que tem espaço para ele”, disse Claudia.
Thays Carolyne Ramos Nascimento, é uma das estudantes bolsistas no projeto. Thays cursa o 7° período de Engenharia de Alimentos e participa do projeto desde 2016. “O projeto me permite enxergar cada pessoa e cada necessidade especial como única, assim podendo traçar a melhor estratégia para melhor auxiliar as demandas existentes na universidade e as que futuramente aparecerem, é uma experiência muito gratificante ver o desenvolvimento dos alunos com os quais tenho contato”, comentou.
O Projeto Educar para a Diferença, que também faz parte do programa, busca fazer um levantamento com as escolas públicas de Montes Claros, identificar o perfil dos estudantes com necessidades especiais, e trazê-los para conhecerem o campus e as oportunidades da universidade.
Outra demanda do campus que passou a ser atendida com o programa foi a oferta de aulas de português para estrangeiros. Por meio do projeto, os alunos, professores e visitantes estrangeiros do ICA passam a contar com aulas de português para melhoria do convívio e de sua adaptação no país, assim como do seu desempenho nas aulas.
Infraestrutura
No primeiro semestre letivo de 2018 foram realizadas obras de infraestrutura para melhoria da acessibilidade no campus do ICA. As calçadas estão sendo reformadas para adequação à norma brasileira de acessibilidade (NBR 9050).
O engenheiro civil e coordenador do Setor de Infraestrutura do ICA, João Victor Gonçalves Oliveira, explica que o campus foi implementado em uma edificação antiga, que apresentava falhas que dificultavam a mobilidade natural pelo ambiente. “A largura das vias foi aumentada, os passeios estão com melhor acessibilidade e inclinações mais acessíveis, complementando com a instalação do piso tátil. Inicialmente, estamos focando na área central do campus onde há maior veiculação de pessoas, para depois avançarmos para as áreas mais periféricas”, contou João. A estimativa é que as obras estejam concluídas até novembro deste ano.
Também foram adaptados os banheiros do Centro de Pesquisas em Ciências Agrárias (CPCA) e dos Blocos C, D e B. Outra obra já finalizada foi a calçada de acesso aos Laboratórios Especiais. Inaugurados em 2016, os oito prédios que contemplam os laboratórios para os cursos de Engenharia Florestal e Engenharia Agrícola e Ambiental ainda não possuíam calçadas de acesso. De acordo com João Victor, a próxima etapa será o melhoramento da estrada que leva a esta parte do campus.