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03 / fev / 2020
Pequi e vinho podem ajudar no combate à obesidade, revela pesquisa conjunta entre Unimontes e UFMG

Eficiência está na propriedade do ácido gálico em queimar gorduras, substância também encontrada em outros frutos do Cerrado

O professor Sérgio Santos em laboratório; os experimentos foram realizados com camundongos. Foto: Amanda Lelis/UFMG

O pequi, o fruto-símbolo do Cerrado, assim como o vinho, pode contribuir para a redução do colesterol e para o combate à obesidade, auxiliando também na prevenção de doenças como o diabetes. Este é o resultado de pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), por intermédio do Programa de Pós-Graduação Stricto sensu em Ciências da Saúde (PPGCS), em parceria com o Instituto de Ciências Agrárias (ICA), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com sede em Montes Claros.

O estudo revela que o ácido gálico, encontrado na uva, no vinho, no café e em algumas plantas e frutos do Cerrado – como o pequi – pode contribuir para a queima de gorduras. O resultado, apresentado em artigo publicado em revista científica internacional, poderá subsidiar outros estudos relacionados ao tratamento de obesidade e de outras doenças metabólicas.

Iniciado em 2012, o experimento foi desenvolvido em camundongos no biotério da Unimontes, com o teste do ácido gálico no tratamento da obesidade. “Induzimos a obesidade nos camundongos, com dietas que são ricas em gorduras e açúcar – e que são comuns na dieta humana, principalmente, por parte de pessoas que têm uma alimentação desregulada. Os camundongos se tornaram obesos. Em seguida, nós iniciamos o tratamento dando a eles o ácido gálico por mais de 30 dias”, relata um dos responsáveis pela pesquisa, o professor Sérgio Henrique Sousa Santos, coordenador do estudo.

“Os principais resultados que observamos é que o uso do ácido gálico em modelos animais de doenças metabólicas, especialmente, obesidade, diabetes e colesterol elevado, pode proporcionar benefícios e reduzir parâmetros associados com estas doenças. O ácido gálico diminui o colesterol LDL em camundongos obesos e reduz a gordura, ativando a termogênese, que é a produção de calor através da queima do estoque de gordura do tecido adiposo”, explica o pesquisador, que é doutor em Ciências Biológicas e pós-doutor em Ensaios Farmacológicos.

“Os resultados foram muito importantes, com a redução do peso corporal e melhoria da glicemia, que está associada, principalmente, ao diabetes, mostrando que a ativação da queima calórica pode ser benéfica”, diz Sérgio Santos. Ele enfatiza, ainda, que o experimento abre perspectivas para novos testes do uso do ácido gálico e dos alimentos ricos neste composto em humanos. O objetivo dos testes, no caso, “é provar que determinados alimentos ricos nessa substância, consumidos de forma regular, podem beneficiar a saúde e a qualidade de vida dos pacientes”, comenta o professor das Universidades.

Comprovada a reversão de várias doenças metabólicas e da melhora do perfil corporal, o pesquisador prevê a possibilidade do uso de cápsulas para tratamentos. Além disso, Sérgio comenta que pessoas que consomem produtos ricos em ácido gálico poderão usar a alimentação como ferramenta de prevenção.

Sérgio Santos destaca que o ácido gálico é  encontrado em vários alimentos, em maior ou menor grau. “Entre estes alimentos, a gente pode destacar o café, o vinho, as uvas e alguns outros frutos que são tipicamente regionais, em especial, o pequi. O uso regular desses alimentos – que, além do ácido gálico, contam com outros elementos –, traz vários benefícios para a saúde. São os alimentos funcionais, que, quando usados regularmente, podem contribuir para melhorar o estado de saúde das pessoas e até prevenir algumas doenças”, observa.

Alimentos benéficos

Sérgio Santos ressalta que o pequi, por ser rico em ácido gálico, pode ser usado no controle do colesterol e também contra o aumento de peso. “O pequi, especificamente, é um dos produtos que o possuem o ácido gálico. E não somente pelo ácido gálico, mas por outros componentes que existem nele, o consumo regular do pequi na alimentação integral do nosso dia a dia pode auxiliar no controle de alterações de colesterol e no combate ao aumento de lipídios”, avalia o pesquisador.

O professor destaca que o vinho também possui benefícios à saúde. “O vinho é uma bebida há muito tempo estudada, que, quando de boa qualidade (não um vinho doce), sem açúcar, feito de boas uvas, especialmente o tinto, traz benefícios para a saúde”, responde o pesquisador Sérgio Santos.

Ele salienta que a bebida ajuda no controle da hipertensão e da obesidade e auxilia na perda de peso. “Existem estudos que indicam que o consumo regular de uma taça de vinho, diariamente, pode queimar calorias até o equivalente a 30 minutos de caminhada. Então, um vinho tinto de qualidade pode ser um aliado –, claro, para pessoas que têm condições de consumir, que não têm doenças hepáticas, que não tem alcoolismo e que não possuam outras doenças nas quais o álcool possa interferir”, descreve.

O pesquisador lembra que um dos componentes do vinho é o resveratrol, que ativa a uma família de enzimas chamadas sirtuínas, que ajudam a queimar gorduras e previnem o envelhecimento e melhoram o metabolismo. “E nós mostramos que o ácido gálico também ativa as sirtuínas. O ácido gálico que está presente no vinho e em outros alimentos gera também assim a queima calórica”, relata o professor Sérgio Santos.

Parceria para fomento de pesquisas

O estudo sobre as propriedades do ácido gálico envolveu docentes e alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Unimontes e professores e alunos do curso de Engenharia de Alimentos, do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, em Montes Claros. “Essa parceria é importante porque permite uma troca de conhecimentos, interação entre as áreas e a interdisciplinaridade. Além disso, possibilita o uso mais constante e bem aproveitado de equipamentos, gerando produções importantes em comum. Isso aumenta a qualidade e a potencialidade dos estudos”, enfatiza Sérgio.

Ele ressalta, ainda, a relevância da ação conjunta em prol do crescimento da investigação científica. “Como professor do Programa de pós-graduação em Ciências da Saúde e também do ICA, atesto que essa parceria tem sido muito benéfica para o crescimento da ciência no Norte de Minas. As parcerias têm feito o Norte de Minas se desabrochar e dar saltos em pesquisas que se destacam no Brasil. Podemos observar o crescimento da pesquisa e de publicações científicas resultantes de projetos desenvolvidos no Norte de Minas e, em especial, em Montes Claros”, conclui o professor Sérgio Santos.

[Texto publicado originalmente no Portal da Unimontes]