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28 / nov / 2023
Novembro Negro reúne representantes de povos tradicionais e discute a importância da diversidade na universidade

Evento foi realizado pela manhã e à noite, nesta terça-feira, no ICA

Evento reuniu a comunidade acadêmica em uma programação extensa
Foto: Ana Cláudia Mendes I UFMG

“Resistir para existir: a importância da diversidade na universidade”, foi o tema do Novembro Negro no campus da UFMG em Montes Claros. O evento reuniu representantes de povos tradicionais que apontaram a importância da ocupação de espaços de conhecimento. A abertura foi feita pelo Arte Educador, Musicista, Especialista em Antropologia, Consultor UNESCO para o Projeto UNESCO | Renova | PG 12 | Reparação das referências culturais, João Fernandes. O cantor e compositor trouxe ao público o show “Identidade” com canções do disco ‘Apará’ lançado em 2020. João Fernandes apresentou um autêntico repertório de canções que falam da luta e resistência da música afro-brasileira e trouxe ainda uma abordagem moderna com linguagem clássica e suas interpretações remetem a todo um lirismo de sua alma mineira. “A nossa pauta de trabalhar a humanidade é esta: o respeito à diversidade, o respeito a todos e a todas, às suas crenças e às suas raças, ao que você acredita. Quando levei para a Unesco esta pauta, não teve questionamento”, afirmou o artista durante a apresentação.

João Fernandes apresentou um autêntico repertório de canções que falam da luta e resistência da música afro-brasileira
Foto: Ana Cláudia Mendes I UFMG

Reflexões sobre a ancestralidade e o processo de aquilombamento da Universidade

O evento destacou a importância da diversidade na universidade
Foto: Ana Cláudia Mendes I UFMG

Durante a abertura a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis, Licínia Ferreira, falou sobre a importância de discussões como estas no âmbito acadêmico. “Reconhecer a competência, a capacidade e o saber dos povos negros e indígenas na universidade é nada mais do que nossa tarefa histórica do que a gente afirma neste Novembro Negro. Novembro Negro é todos os dias para nós, pretos e pretas. O racismo não nos dá trégua. Parafraseando Conceição Evaristo, eu digo: ‘Combinaram de nos embranquecer, combinaram de embranquecer o nosso saber, o nosso conhecimento, mas nós combinamos de enegrecer a universidade”, afirmou.
Reforçando as palavras da professora Licínia Ferreira, o diretor do Instituto de Ciências Agrárias, professor Hélder dos Anjos Augusto, falou sobre a importância de falar sobre a ancestralidade. “Falar sobre a ancestralidade pressupõe falar da hereditariedade. Aquilo que nos compõe é feito não somente de elementos culturais e sociais, mas é o resultado de um processo cultural. As marcas genéticas, aspectos místicos e saberes, isso nos leva a caminharmos para a travessia do Atlântico. É importante tecermos esta dimensão histórica. A travessia, é auxílio na retomada da identidade dos povos africanos que um dia fomos. Pois é a força vital que vai apontar na reconstrução destes fragmentos que foram apontados”, explicou.
A representante do Coletivo Indígena e Quilombola do Instituto de Ciências Agrárias (ICA), Neilma Souza Xakriabá, da UFMG, destacou como o aquilombamento das universidades pode contribuir para o fortalecimento da identidade dos povos tradicionais. “O dia 20 de novembro busca lembrar a memória de Zumbi dos Palmares, grande líder a formar o primeiro quilombo do país, sendo o primeiro sinal de resistência e refúgio para os negros escravizados. Hoje, ainda encontramos os descendentes dos que viveram nos quilombos fundados por seus antepassados. Por outro lado, muitos destes descendentes não se encontram mais nestes quilombos. Estamos aqui (na universidade) para lutar. E esta é uma das características que unem tanto os povos quilombolas e nós, indígenas. Essa coletividade que dá voz e força ao movimento”.
Após a abertura, foram realizadas homenagens a servidores do ICA. Receberam a homenagem, familiares do professor Georgino Jorge de Souza Júnior e dos servidores técnico-administrativos Gaspar Maurício Anselmo dos Santos e Paulo Moreira.
Em seguida, teve início a mesa redonda com o tema “Resistir Para Existir: A Importância Da Diversidade Na Universidade”. Participaram do debate a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis e professora Licínia Maria Correa; a liderança indígena Tita Maxakali; a representante do Quilombo Macaúbas Palmito Heleninha Manoela de Oliveira Fernandes; e Margareth Gomes representante do Quilombo Monte Alto. Ao final, os participantes puderam debater o assunto com os convidados.

Neilma Xakriabá, representante do Coletivo Indígena e Quilombola do ICA
Foto: Ana Cláudia Mendes I UFMG

Programação Ampliada

Apresentação do grupo parafolclórico Saruê sobre a origem e história dos Orixás
Foto: Ana Cláudia Mendes I UFMG

Para levar o tema a um número maior de estudantes, no período noturno foram realizadas novas atividades. O grupo parafolclórico Saruê fez uma apresentação sobre a origem e história dos orixás.
Em seguida, foi realizada a mesa redonda “Resistir Para Existir: A Importância Da Diversidade Na Universidade”, com a presença da Pró-Reitora de Assuntos Estudantis, Licínia Ferreira e da jornalista, colunista do Jornal Hoje em Dia, doutora em Literatura, servidora pública federal e professora universitária Andreia Pereira. “São seis anos de Novembro Negro. ‘Ancestralidade e Coletividade: aquilombar para permanecer’, foi o tema que nós escolhemos este ano para o Novembro Negro da UFMG. O aquilombar está no nosso modo de viver e de existir, trazendo para este aquilombamento a ancestralidade”, explicou a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis.

Andreia Pereira destacou a importância do aquilombamento para fortalecimento dos saberes e conhecimentos tradicionais
Foto: Ana Cláudia Mendes I UFMG

Palestrante também da quinta edição do Novembro Negro, realizada em 2022, a jornalista Andreia Pereira destacou como o evento tem ganhado força. “Depois de um ano, eu vejo que o evento está muito maior, potencializou muito mais. Eu queria parabenizar a UFMG por isso, por persistir. Trazer isto para dentro da universidade é incrível, simbólico e importante”, ressaltou.
Licínia Ferreira, falou ainda sobre a importância do resgate da cultura e saberes tradicionais. “São muitos saberes, muito conhecimento, muita cultura que foram sendo confinados pela colonização. No Brasil, somos uma diáspora de África. Nós somos um legado do continente africano para este país. Não um legado de mão-de-obra, de escravização, mas um legado de cultura, de saberes que foram colonizados pelo povo branco e pelos diversos colonizadores”.

O público participou discutindo o tema com as palestrantes
Foto: Ana Cláudia Mendes I UFMG

Andreia Pereira reforçou a importância de falar sobre o racismo, a negritude e também sobre a branquitude enquanto um sistema que se beneficia do racismo estrutural. “Quando uma pessoa se dispõe a falar sobre consciência negra, diversidade e inclusão a gente não pode perder a oportunidade. Porque, infelizmente, este é um tema que pouca gente quer falar. O Brasil ainda é um país que se recusa a olhar para a diversidade, para a negritude, para o racismo e, principalmente, é um país que ainda se recusa a olhar para as sequelas de mais de 400 anos de escravidão”, afirmou a jornalista.
Assim como ocorreu pela manhã, ao final das palestras, o público também pode debater o assunto com as convidadas.

(Ana Cláudia Mendes I Cedecom UFMG Montes Claros)