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30 / nov / 2022
Novembro Negro reúne comunidade acadêmica no ICA

Palestra com a doutora e jornalista Andreia Pereira abordou temas como a escravidão e o racismo estrutural no Brasil

Evento reuniu acadêmicos e professores no ICA. (Foto: Ana Cláudia Mendes/UFMG)

Na noite desta terça-feira, 28, foi realizada no Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG, mais uma edição do Novembro Negro. O evento foi aberto com a palestra “CONSCIÊNCIA NEGRA IMPORTA: da compreensão à resistência” e em seguida, foi feita uma roda de conversa com os presentes. Na abertura, o diretor do ICA, professor Hélder dos Anjos Augusto, falou sobre a importância de ações como estas. “Que sejam realizados mais eventos desta natureza, que possam fortalecer todo o processo de formação social. Não só o aspecto técnico-científico. Nós temos que avançar nos debates. E em cinco edições estamos trazendo temáticas aqui. Que assim possamos amenizar e encurtar estes distanciamentos étnico-raciais que vêm acontecendo em especial no Brasil e neste mundo em formação”.

Para o diretor do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG, professor Hélder Augusto, é preciso avançar ainda mais nas questões referentes ao racismo no Brasil. (Foto: Ana Cláudia Mendes/UFMG)

A coordenadora do Novembro Negro no ICA, professora Márcia Martins, não pode comparecer por motivos de saúde. Representando a coordenação do evento, o professor Frederico Mineiro leu a mensagem enviada pela docente. No texto, foi citado um trecho do livro de Djamila Ribeiro, Pequeno Manual Antirracista.

“O primeiro ponto a se entender é que falar sobre o racismo no Brasil é sobretudo fazer um debate estrutural. É fundamental trazer a perspectiva histórica e começar pela relação entre escravidão e  racismo, mapeando as suas consequências. Deve-se pensar como esse sistema vem beneficiando economicamente, por toda a história a população branca. Ao passo que a negra, tratada como mercadoria, não teve acesso a direitos básicos e à distribuição de riquezas”.

No texto, a professora com uma reflexão. “Entre os direitos básicos, está a educação, onde Djamila Ribeiro recorda  que apesar da constituição do Império de 1824 determinar que a educação é um direito de todos os cidadãos, a escola estava vetada para pessoas negras escravizadas. Outros grupos sociais oprimidos também compartilham experiência de discriminação como ocorre com os povos indígenas. Aproveito a oportunidade para refletir com vocês sobre a lei de cotas raciais. As cotas visam acabar com a desigualdade racial e o racismo estrutural resultantes de anos de escravidão no Brasil e ainda exclui pessoas negras e indígenas do Brasil da universidade, do mercado de trabalho e dos espaços públicos. É muito comum escutar pessoas que são contra estas cotas. Lembrem-se de que o Brasil assim como outros países que escravizaram populações negras têm uma dívida histórica com esta população”, afirmou.

CONSCIÊNCIA NEGRA IMPORTA

Andreia Pereira explicou as origens do racismo e suas consequências ao longo da história. (Foto: Ana Cláudia Mendes/UFMG)

Compreender o racismo em suas origens. Foi assim que a doutora em Literatura pela UnB, Andreia Pereira, começou  a palestra “CONSCIÊNCIA NEGRA IMPORTA: da compreensão à resistência”. A palestrante, que também é jornalista, mostrou como se deu o processo de escravidão no Brasil e as consequências que se arrastam ao longo de toda a história em função dela. De origem humilde, Andreia falou também um pouco sobre sua trajetória quando dividia o tempo entre as faculdades de Letras e Jornalismo e o trabalho de babá. Mestre em Estudos Literários pela Unimontes, hoje servidora pública federal, ela apontou todos os obstáculos que teve que superar para atingir os objetivos e como a Educação foi essencial para romper ciclos e barreiras. Ela destacou ainda a importância de datas como o Dia da Consciência Negra e medidas como dedicar o mês de novembro a estas questões.

“É importante que estas reflexões aconteçam no mês de novembro. É um assunto que atrai poucas pessoas, é natural. Ninguém gosta de falar sobre racismo, ninguém gosta de discutir a questão do negro, sobretudo a branquitude. Falar sobre este tema é chamar, convidar as pessoas à reflexão. Consciência Negra importa. É preciso que a gente reflita sobre este tema, que a gente compreenda este tema para que a gente possa de fato resistir”, afirmou.

Para o acadêmico Elias Rodrigues Barbosa, o evento mudou o olhar sobre diversas questões. (Foto: Ana Cláudia Mendes/UFMG)

Para o acadêmico do curso de Agronomia Elias Rodrigues Barbosa, a palestra foi bastante esclarecedora. “A Andreia trouxe um conhecimento transformador. Eu tenho certeza que assim como foi para mim, foi para outros. O conhecimento que ela passou abriu nossos olhos e nos fez enxergar novos horizontes. Nós vivemos sim, em um país racista, mas temos que estar em constante evolução para desconstruirmos este cenário. Eu entendi melhor algumas questões. Como morador de uma comunidade remanescente quilombola, sei o quanto é importante ter estes eventos. Não somente em novembro, mas durante todo o ano”.

(Ana Cláudia Mendes/UFMG)