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22 / nov / 2019
II Seminário Frutos do Cerrado é realizado no ICA

Evento reuniu cerca de 200 pessoas nesta quinta para discutir a profissionalização e uso sustentável da sociobiodiversidade

Evento reuniu especialistas de diferentes instituições e de comunidades extrativistas para discutir as demandas do setor. Foto: Amanda Lelis/UFMG

Os frutos do cerrado são matéria prima para produtos regionais que vêm ganhando valor no mercado, são consumidos in natura e também contribuem para a soberania e para a segurança alimentar de populações. Na última quinta-feira, dia 21 de novembro, foi realizada no Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG a 2ª edição do Seminário Frutos do Cerrado, que neste ano teve como tema a profissionalização e o uso sustentável da sociobiodiversidade.

O evento reuniu cerca de 200 pessoas, entre agroextrativistas, pesquisadores, técnicos, e representantes dos setores público e privado, entre outros. Durante o dia, foram realizadas palestras e oficinas visando o compartilhamento de conhecimentos. “Existe uma economia que acaba sendo invisível, pois não aparece nos dados oficiais. Muita gente sobrevive do agroextrativismo, tira uma parte da sua renda dessa atividade, que é tradicional e tem ganhado espaço e valorização no mercado. Fortalecer essas comunidades é fundamental para preservar o cerrado, além de gerar renda para essas populações”, comentou o professor do ICA Fausto Makishi, um dos organizadores do evento.

O professor ressalta que o seminário é uma oportunidade de articulação entre os diferentes atores da cadeia produtiva para discutir ideias, estratégias e levantar demandas ao setor. “A universidade tem dois papeis fundamentais: o primeiro é gerar pesquisa e formar pessoas que possam atuar diretamente com essas comunidades. E o outro é o de promover a articulação entre essas diferentes comunidades, mas também outras organizações de apoio, pensando inclusive em proposição de políticas públicas”, contou.

Santino Lopes Araújo é agroextrativista da comunidade Água Doce, do município Bonito de Minas, localizada na Área de Proteção Ambiental do Rio Pandeiros. “Temos um cerrado vivo, com muitas veredas, muita água. E ainda temos muito que lutar. Trabalhamos com a vereda, dependemos da vereda. Somos de lá, é onde nascemos, nos criamos, e convivemos. Temos que aprender a viver, produzir e preservar”, comentou durante o evento.

Santino Lopes: estarmos em um rio que está morrendo, o que mostra a necessidade de agirmos mais rápido. Foto: Amanda Lelis/UFMG

O agroextrativista explica que a região é permeada por conflitos em função das restrições de uso da área e também pela implantação de indústrias carvoeiras há algumas décadas.  “Nós, como veredeiros, temos a necessidade de mudança de cultura. Estamos na nascente do rio Panderiros, um braço do São Francisco. E estarmos em um rio que está morrendo, o que mostra a necessidade de agirmos mais rápido”, disse.

O seminário foi organizado em parceria pela UFMG, o Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene), a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), e o Núcleo do Pequi.

Programação

Durante a manhã, Fernando Madeira da empresa Probiomas palestrou sobre a profissionalização do extrativismo e o beneficiamento de frutos do cerrado. Marilda dos Santos apresentou a experiência bem-sucedida da Cooperativa de produção e comercialização dos produtos da Agricultura Familiar do Sudoeste da Bahia (Cooproaf). A iniciativa, implantada em 2010 reúne famílias na produção, beneficiamento e comercialização de frutas nativas, em especial o umbu, fruto característico na região.

Marcos Guião, representante do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), falou sobre o apoio da instituição em projetos voltados ao manejo sustentável de plantas medicinais do cerrado. E Koibe Soares, da Ong WWF Brasil apresentou o Projeto Origens Brasil, que propõe uma rede colaborativa na promoção de  relações comerciais éticas, transparentes e equilibradas, engajadas com as populações que desenvolvem a atividade agroextrativista, assim como à conservação do meio ambiente.

Além das palestras, também foram oferecidas oito oficinas teóricas e práticas. Entre os temas estiveram “Fabricação de biscoitos com frutos do cerrado”, “Artesanato de sementes, casca, folhas e flores do cerrado”, “Controles financeiros na propriedade rural”, “Segurança alimentar e nutricional e agroindústria familiar”, entre outros.

Pesquisa e extensão

A UFMG ofertou duas oficinas durante o evento. O professor Ernane Martins ministrou oficina sobre plantas medicinais. E o professor Paulo Sérgio Nascimento ministrou a oficina sobre propagação de mudas de plantas nativas do Cerrado. O ICA foi pioneiro no desenvolvimento de pesquisas com estas temáticas e já alcança resultados positivos, de acordo com o professor.

“Um evento dessa natureza é uma oportunidade de mostrar o que a universidade tem de resultados de trabalhos de pesquisa e extensão que são desenvolvidos ao longo da última década e relacionar também com a importância do bioma e de sua conservação’, disse Paulo Sérgio.

O professor ressalta que um diferencial do ICA é a relação com as comunidades e com os agroextrativistas e agricultores da região. “Neste tempo de atuação, muitos dos trabalhos que desenvolvemos vieram da demanda dos agricultores e agroextrativistas. O grande diferencial do ICA é essa construção do conhecimento de forma coletiva”, contou.

De acordo com o professor, entre os resultados obtidos ao longo da última década com a produção de pesquisas científicas e também a atuação em projetos de extensão com as comunidades, é possível destacar as técnicas para propagação de mudas de pequizeiro, de coquinho azedo e palmeiras do cerrado como buriti e macaúba. No passado, conforme explica o professor, não havia conhecimento sobre essas metodologias. Também foram desenvolvidos pelos pesquisadores índices agronômicos de desenvolvimento das plantas, visando o manejo sustentável. Além de projetos de pesquisa que estudam o melhoramento genético de algumas destas espécies.

“Os recursos naturais do Cerrado são muito importantes. Eles geram emprego, renda e desenvolvem toda uma cadeia produtiva. O que falta ou que limita, são informações para melhorar esse sistema, inclusive tornando ele cada vez mais sustentável, considerando a recuperação do bioma”, informou Paulo.

Fausto: Existe uma economia que acaba sendo invisível, pois não aparece nos dados oficiais. Foto: Amanda Lelis/UFMG

O professor Fausto também destaca o envolvimento da Universidade no desenvolvimento de pesquisas, projetos e programas de extensão voltados a esta temática em diferentes frentes de ação.  O professor explica que atualmente, são desenvolvidos projetos de apoio à parte de adequação sanitária e organizacional desses empreendimentos comunitários, objetivando alcançar a adequação às legislações e exigências dos órgãos reguladores, visando ganhar espaço o mercado. “Um dos principais gargalos hoje é a comercialização e, para isso, os agroextrativistas precisam manter as tradições nos modos de produção, mas de forma que alcancem também a profissionalização da atividade”, disse Fausto.