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28 / ago / 2020
ICA cria observatório dos efeitos da covid-19 na agricultura familiar do Vale do Jequitinhonha

A ação foi contemplada por chamada do CNPq e vai sistematizar dados sobre desafios e soluções da agricultura familiar em relação à pandemia

As feiras são importantes pontos de comercialização afetados pelo isolamento na pandemia no Jequitinhonha. Foto: Sirlene Cruz

A agricultura familiar representa importante fonte de ocupação e renda para a população do Vale do Jequitinhonha. A atividade garante o auto abastecimento de muitas comunidades e municípios, com comercialização em mercados e feiras locais. Projeto de pesquisa realizado pelo Instituto de Ciências Agrárias da UFMG busca compreender como a chegada da pandemia do novo coronavírus na região afetou as relações entre produtores rurais e mercado e o acesso aos serviços de saúde e à água pela população.

O projeto “Efeitos da covid-19 sobre agricultura familiar, alimento e água no Vale do Jequitinhonha mineiro, formulado em conjunto com o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) e o Instituto de Trabalhadores e Trabalhadoras do Vale do Jequitinhonha (Itavale), propõe registrar e disseminar informações sobre as soluções, os entraves e as demandas locais que surgiram em resposta ao isolamento social necessário como medida preventiva à transmissão da doença.

De acordo com a professora da UFMG Flávia Galizoni que coordena a iniciativa, o projeto busca conhecer as soluções locais, comunitárias e municipais no momento da crise e agregar sugestões provindas do conhecimento acumulado nas instituições de pesquisa e extensão rural.  Serão priorizados três eixos de investigação: acesso a água, alimentos e saúde. Flávia é professora do curso de Administração e do mestrado associado entre a UFMG e Unimontes em Sociedade, Ambiente e Território.

A professora destaca que a produção de alimentos pela agricultura familiar tem grande representatividade para a manutenção da soberania alimentar no Jequitinhonha. “Essa população tem um elemento importante que é sua fortaleza:  produz alimentos para o auto abastecimento, combinado ao abastecimento dos municípios, pequenos e rurais. Essa população consegue se abastecer e suportar períodos de isolamento por meio de relações em redes de reciprocidade e confiança”. No entanto, de acordo com a professora, a paralisação das feiras livres e do comércio local pode ter impactado na venda de grande parte da produção, que precisou criar alternativas para suprir a demanda urbana.

Outro ponto de preocupação, de acordo com Flávia, é o acesso aos serviços públicos de saúde pelas famílias. “A saúde é o calcanhar de Aquiles para uma população rural, que é mais envelhecida e que, para ter acesso à saúde, precisa se deslocar até os polos regionais. Por isso, queremos investigar como está a atenção primária realizada pelos agentes de saúde, que oferecem suporte importante nesse primeiro acompanhamento na comunidade”, explicou.

O projeto parte desses pressupostos para propor uma rede de informações sobre os efeitos da pandemia na agricultura familiar do vale do Jequitinhonha. O registro do cotidiano do enfrentamento da situação de crise pode fornece elementos para planejar ações coletivas de futuros programas públicos.

Articulação em rede

Há cerca de 21 anos, o Núcleo de Pesquisa e Apoio à Agricultura Familiar do ICA realiza projetos de pesquisa e extensão no Vale do Jequitinhonha. O Observatório contribuirá para a ampliação das ações na região, além de servir também como projeto piloto, que poderá ter sua metodologia adotada para análise em outras localidades rurais.

O estudo realizará a divulgação de boletins semanais com as informações coletadas para compartilhamento gratuito com a população local. O projeto contempla 12 municípios e, na primeira fase de sua realização, já foram mapeadas cerca de cem organizações da sociedade civil, do poder público, associações municipais, entre outras. Durante os dois anos de vigência do projeto, as informações serão coletadas, sistematizadas e registradas com apoio desta rede de instituições.

“É um projeto que tem alta capilaridade, que conta com a parceria entre a Universidade, a sociedade civil e o poder publico. A intenção é que ele funcione como um projeto piloto, priorizando dados da população rural, na linha de prevenção e controle, analisando intervenções não farmacológicas frente à pandemia”, completou Flávia. No primeiro ano, em função do isolamento social, as atividades do projeto serão realizadas remotamente com o levantamento e sistematização de dados e, em próxima etapa, a equipe planeja visitações em campo para análises mais detalhadas.

O estudo foi contemplado por chamada pública do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que vai apoiar ações que contribuam para o enfrentamento da Covid-19 e suas consequências no país.  O projeto de pesquisa foi elaborado pelo Núcleo de Pesquisa e Apoio à Agricultura Familiar do ICA e pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG), em parceria com o Centro de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) e Instituto de Trabalhadores e Trabalhadoras do vale do Jequitinhonha (Itavale).