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27 / fev / 2018
Em Montes Claros, calouros realizam registro e matrícula presenciais

Assistência estudantil alcança mais da metade dos alunos do Instituto de Ciências Agrárias

Nos últimos três dias úteis, o Instituto de Ciências Agrárias (ICA), em Montes Claros, atendeu os novos alunos para registro acadêmico e matrícula presenciais. Foram convocados 240 candidatos ao todo.

A partir deste ano, os candidatos que se autodeclaram negros (pretos ou pardos) devem apresentar em formulário, uma carta de próprio punho justificando sua autodeclaração e seu pertencimento étnico. Alessandro José da Silva, de 21 anos, é um dos calouros convocados para o curso de Zootecnia e esteve presente no campus nesta sexta para entrega dos documentos. O jovem se inscreveu em uma das modalidades de reserva de vaga por ter cursado o ensino médio em escola pública, possuir renda familiar bruta mensal per capita igual ou inferior a 1,5 salário mínimo, e ser autodeclarado negro.

“Eu pensei sobre as minhas gerações anteriores e me fez refletir muito. Eu sempre me considerei negro. Coloquei que a maior parte da minha família é de negros e pardos, todo mundo me vê como negro, eu me vejo como negro e tenho orgulho de ser afrodescendente. É algo importante, a gente tem que ser orgulhar do que a gente é. Gostei da justificativa, acho que serve para aprimorar esse sistema, evitar fraudes e ter uma possível conferência depois”, comentou Alessandro.

Alessandro José da Silva, de 21 anos, foi convocado para o curso de Zootecnia na modalidade de reserva de vagas. Foto: Amanda Lelis/UFMG

O diretor do ICA, Leonardo David Tuffi Santos, reforça o esforço da UFMG para cumprir seu papel de oferecer à população acesso ao ensino gratuito de qualidade. “A Universidade tem se preparado ao longo dos anos para atender de forma ampla a comunidade. Aqui em Montes Claros, temos alunos de perfil diferente dos campi de Belo Horizonte. Isso se deve ao fato de estarmos inseridos numa região que apresenta, historicamente, maior desigualdade social. A maior parcela do nosso alunado vem de escola pública e tem renda familiar mais baixa”, enfatizou o diretor.

Tuffi Santos destaca as Ações Afirmativas da UFMG, que promovem práticas acadêmicas de acolhimento e apoio aos estudantes de grupos socialmente menos favorecidos. “Nos últimos anos, a Universidade tem promovido ações que tratam da questão da igualdade, da diversidade, do combate aos preconceitos. Isso é fundamental para que a nossa comunidade continue avançando no processo de efetiva inclusão”, comentou.

Ingrid Stefany Ferreira Silva é outra candidata que se autodeclara negra. Com origem no município de Brasília de Minas, a jovem se candidatou ao curso de Administração e contou que, ao longo da vida, sofreu preconceitos em função da cor de pele e considera importante a reserva de vagas. “Mesmo que o Brasil tenha sido construído com uma mistura muito grande, o racismo ainda existe. E é um racismo velado. A gente sabe que a pessoa  negra enfrenta ainda dificuldades para conseguir emprego, por exemplo, o que não deveria acontecer. Acho que as pessoas ignoram a história do nosso país”, disse.

De acordo com Ingrid, a reserva de vaga levanta uma questão importante para debate. “É necessário, sim, que as pessoas negras frequentem a faculdade, tenham um bom emprego. Isso contribui para que a desigualdade e o preconceito acabem. As cotas raciais contribuem muito”, completou Ingrid.

De acordo com Ingrid Stéfany Ferreira, a reserva de vagas contribui para diminuição do preconceito e das desigualdades. Foto: Amanda Lelis/UFMG

 

Pessoas com deficiência

Este ano foi o primeiro que a UFMG disponibilizou reserva de vagas para candidatos com deficiência, em cumprimento à Lei 13.409/2016. Durante o registro presencial e matrícula, os candidatos são submetidos a perícia médica e devem apresentar autodeclaração e laudo médico com informações sobre tipo e grau de deficiência, nos termos do artigo 4º do Decreto 3.298/99, com expressa referência ao código correspondente da Classificação Internacional de Doenças (CID).

De acordo com o Dr. Fabiano Cristóvão, médico do trabalho no campus Montes Claros, a perícia é uma forma de conferir se a documentação do candidato está de acordo com as especificações da legislação vigente. “Essa perícia vai ser feita como uma conferência em relação ao estado da pessoa e se há o enquadramento dentro do decreto 3.298 de 1999. Em alguns casos pode ser necessária a apresentação de alguns exames complementares para comprovar a situação, como é o caso do deficiente visual, do deficiente auditivo e alguns outros quadros de deficiência”, reforçou o médico.

Deraldo Vinícius Lopes se inscreveu para o curso de administração na reserva de vagas para deficientes, ele tem uma deficiência congênita. Desde que nasceu, ele possui uma limitação de mobilidade por uma má formação nos pés. “Há cerca de um ano fiz uma cirurgia, porque eu sentia muita dor. Tenho limitações de acesso, de mobilidade, para andar pra longe, principalmente. A universidade é um desafio bom, penso que estudando a gente pode ter ideias para fazer alguma coisa para outras pessoas, como outros já fizeram para que as pessoas com deficiência ou outro tipo de dificuldade”, comentou.

As documentações dos candidatos de reserva de vagas é avaliada pela UFMG antes da efetivação da matrícula.

Assistência estudantil

Mais de 50% dos alunos atualmente matriculados no ICA são atendidos pela assistência estudantil. O serviço é oferecido para os estudantes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que é prestada por meio da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump).

“Nos últimos anos se intensificou, com a criação da Pró-reitoria de Assuntos Estudantis e das ações da Fump, o apoio dos nossos alunos de baixa renda. Este é um trabalho fundamental para a permanência dos nossos alunos nos cursos, que tem diminuído a evasão. Uma satisfação saber dos bons frutos e resultados”, reforçou o diretor da unidade.

Andreia Silva e Santos, gerente da unidade da Fump no campus Montes Claros, explica que os estudantes podem ter acesso a diferentes programas de assistência estudantil como alimentação, por meio dos restaurantes universitários, moradia e auxílio financeiro para custeio das despesas básicas e acadêmicas. Ao longo do curso, os alunos assistidos também recebem acompanhamento psicológico, social, médico e odontológico.

Durante o registro presencial e matrícula, os candidatos são atendidos e orientados sobre o serviço. “Nós montamos uma estrutura para atendimento dos estudantes que foram selecionados e que precisam passar pela análise socioeconômica do assistente social. E, além disso, para dar orientação aos alunos que estão ingressando na universidade a respeito da assistência estudantil como um todo”.

Andreia explica que, para ter acesso, o aluno precisa preencher o questionário socioeconômico no site da Fump e protocolar a documentação. A assistência estudantil pode ser solicitada em qualquer momento da trajetória acadêmica.

O futuro calouro de zootecnia no ICA mora na zona rural de Jaíba, município do interior de Minas Gerais, que fica cerca de 200 km de Montes Claros. Alessandro comenta que, após a efetivação da sua matrícula, ele pretende fazer a solicitação de assistência estudantil para apoio em sua mudança para Montes Claros. “Venho de uma família bastante humilde e busco minha realização pessoal e familiar através da educação. Iniciei um curso de Ciência e Tecnologia em 2014, mas devido a dificuldades financeiras não foi possível dar continuidade ao curso. Escolhi a UFMG por ser uma excelente universidade e por contarem com programas de assistência estudantil mais consolidados. Agora pretendo me esforçar ao máximo para conseguir me graduar no curso de zootecnia e realizar o meu sonho”, contou Alessandro.

 

[Esta notícia foi editada em 1 de março com a correção do número de convocados para a matrícula.]