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11 / maio / 2021
Rodrigo Ednilson lança livro sobre heteroidentificação racial da UFMG

Professor foi um dos condutores do processo que ajudou a aperfeiçoar a política de ações afirmativas da Universidade

Ao longo da primeira década deste século, a UFMG adotou políticas de ações afirmativas para minimizar as desigualdades no acesso da população negra ao ensino superior. Em 2009, implementou a política de bônus vinculada a uma autodeclaração racial. Em 2012, à luz de legislação federal específica, implantou a política de cotas e, algum tempo depois, começaram a surgir denúncias de fraudes, evidenciando ocasionais incompatibilidades entre o modo como alguns candidatos se veem e a forma como os demais estudantes os enxergam. Foi nesse contexto que a UFMG e outras universidades brasileiras implementaram os procedimentos de heteroidentificação racial, hoje fundamentais na qualificação do debate sobre as identidades raciais do brasileiro.

Nesta quinta-feira, 13, a partir das 19h, o professor Rodrigo Ednilson de Jesus, da Faculdade de Educação Rodrigo lança Quem quer (pode) ser negro no Brasil?, livro publicado pela Editora Autêntica que busca recuperar a história do procedimento de heteroidentificação racial na UFMG e os impactos dessa inovação nos modos de pensar a identidade e a identificação racial no Brasil.

Ex-pró-reitor adjunto de Assuntos Estudantis e atual presidente da Comissão de Ações Afirmativas e Inclusão da UFMG, Rodrigo Ednilson foi um dos integrantes da Administração Central da Universidade que estiveram à frente dos processos de discussão e implementação dos procedimentos de heteroidentificação na Universidade. É esse conhecimento que combina reflexão teórica e experiência de gestão que ele traz no volume ora publicado.

Rodrigo Ednilson de Jesus: público ativo das políticas de ações afirmativas

Ednilson: combinação de reflexão teórica e experiência de gestão. Foto: Foca Lisboa | UFMG

“Este livro é fruto das reflexões em torno das bancas de heteroidentificação implementadas na UFMG a partir de 2019. Passei os últimos dois anos concentrado em sua preparação”, conta Ednilson. “Se, ao longo dos últimos séculos, o número daqueles que queriam ser negros era bem pequena, em razão do racismo, a partir do advento das políticas de ações afirmativas, vimos essa realidade mudar gradativamente. Hoje, há crianças e jovens que expressam orgulho de quem são e de onde vieram, mas vemos também a necessidade de nos perguntarmos: todos podem se declarar negros? Todos podem concorrem às políticas dirigidas a pessoas negras (pretas e pardas)? Essas são apenas algumas das perguntas que este livro busca responder”, afirma o professor.

“Quem é negro no Brasil? O que é ser negro no Brasil? Quem pode se autodeclarar negro no Brasil? Longe de querer dar uma resposta final a esse conjunto de questões, fruto de complexo processo histórico, social, cultural, educacional e político, o professor Rodrigo Ednilson elabora outra forma de indagar, olhar e analisar tais questões, inspirando-se em sua trajetória pessoal, acadêmica e de gestão”, anota a professora Nilma Lino Gomes, da Faculdade de Educação, no prefácio do volume.

Outras possibilidades de análise
Nilma Lino é a coordenadora da coleção Cultura negra e identidades, por meio da qual o livro está sendo publicado. A coleção tem como público-alvo alunos de graduação e pós-graduação, professores da educação básica, intelectuais e demais interessados na questão étnico-racial no Brasil e na diáspora. Em texto que abre o volume, Nilma afirma que Rodrigo dialoga “com a sua própria condição de intelectual negro engajado na luta antirracista” e “problematiza e mostra outras possibilidades de análise diante desse conjunto de perguntas que fazem parte das discussões cotidianas, de estudos e pesquisas e da vida da população negra brasileira”.

Nilma Lino prossegue: “Quem frauda uma política pública comete um crime e deve arcar com a responsabilidade desse ato. O Estado, o jurídico, a mídia, a universidade e demais setores, em uma sociedade que luta para ser mais democrática, tem a obrigação de zelar pela implementação das leis, especialmente aquelas que garantem direitos aos coletivos sociais diversos com histórico de desigualdade e discriminação. […] O livro em questão não deixa dúvida de que as ações afirmativas não se reduzem a política de cotas, como querem alguns. Elas vão muito além: propõem a construção de políticas de combate ao racismo e à desigualdade racial.”

O livro Quem quer (pode) ser negro no Brasil? já está à venda no site da Editora Autêntica. Em razão da pandemia,  o lançamento será on-line, com transmissão pelo canal do Grupo Autêntica no YouTube. A live reunirá o próprio autor, a professora Nilma Lino Gomes e a reitora Sandra Regina Goulart Almeida.

[Texto: Ewerton Martins Ribeiro/ Cedecom UFMG]