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09 / jun / 2020
Mudanças na divulgação de dados da Covid-19 preocupam pesquisadores da UFMG

Departamento de Estatística defende que Ministério da Saúde retome a formatação anterior; informações subsidiam projeções de casos e mortes pela doença

Tela de site do Ministério da Saúde com informações sobre a Covid-19 referentes a domingo, dia 7. Imagem: Reprodução

Os atrasos na divulgação de informações sobre o número de casos e mortes de Covid-19 e a mudança na formatação dos dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde vêm impondo dificuldades aos sistemas desenvolvidos pelos pesquisadores do Departamento de Estatística do ICEx para projetar os avanços da infecção.

A avaliação é da chefe do Departamento, professora Glaura da Conceição Franco, que assina carta aberta ao Ministério da Saúde na qual solicita que a exposição dos dados volte à formatação anterior. “Particularmente com relação à última modificação, realizada em 4 de junho, foi introduzida uma formatação que causou prejuízos substanciais nos sistemas, interferindo de forma incisiva na sua capacidade de adaptação a essas modificações. Dados de casos e óbitos novos que eram fornecidos em arquivos de fácil utilização passaram a ser fornecidos apenas como texto no sítio do Ministério, sem nem mesmo oferecer a possibilidade de captura a partir da tela. Assim, os dados só podem ser utilizados após sua digitação de forma manual, o que causa grande atraso na realização das nossas análises”, expõe a professora no documento, divulgado neste domingo, dia 7. Como consequência direta da medida, ela lembra que a prestigiada Universidade Johns Hopkins, dona de um dos mais consistentes repositórios de dados sovre a Covid-19 do mundo, excluiu o Brasil de sua plataforma.

Ainda segundo a professora Glaura, o próprio atraso na divulgação de dados tem prejudicado os trabalhos do Departamento de Estatística, além de provocar desconfiança nos diferentes agentes que trabalham com essas informações, comprometendo o planejamento das ações de combate à pandemia. “Nossas análises, que vinham sendo realizadas ao longo da madrugada devido ao grande esforço computacional requerido, só podem ser concluídas, e os resultados liberados, na parte da tarde. Assim, nossas previsões, que antes eram disponibilizadas no início do dia, só estão sendo conhecidas poucas horas antes da divulgação do seu valor verdadeiro”, escreveu a professora.

Leia a carta em formato PDF.

Estatística na pandemia
Desde o início da pandemia, o Departamento Estatística vem desenvolvendo uma série de ferramentas para fazer previsões e avaliações relacionadas à pandemia do novo coronavírus no Brasil. Os estudos mostram, com auxílio de gráficos, a situação atual do país por localidades, as previsões em curto e longo prazos, além de estabelecer comparações entre as localidades e avaliar a evolução após o primeiro caso e por data. Essas comparações são feitas com até cinco estados ou regiões por gráfico, incluindo registro de novos casos, óbitos, registros por 100 mil habitantes e taxa de mortalidade para até 68 dias.

Reação
As mudanças processadas na forma de divulgar os dados de casos e mortes por Covid-19 foram intensificadas na semana passada. Na noite de sexta-feira, dia 5, o Ministério da Saúde deixou de incluir o total de mortes e de casos confirmados desde o início da pandemia, reportando apenas os dados das últimas 24 horas. O formato se repetiu no sábado, dia 6. Na noite deste domingo, 7, dois números discrepantes de mortes (1.382 e 585) foram divulgados em um intervalo de poucas horas.

A nova metodologia gerou reação de parlamentares, de especialistas e da justiça. O Ministério Público Federal abriu procedimento para investigar o caso, e veículos de comunicação anunciaram que vão trabalhar de forma colaborativa para compilar as informações fornecidas pelos 26 estados e pelo Distrito Federal.