Segunda parte do webinário sobre vacinas discutiu aspectos sociais, comunicacionais e diplomáticos do processo
A batalha da imunização não será vencida apenas com capacidade tecnológica para desenvolver vacinas eficazes e seguras. Ela também está associada ao poder de convencimento e mobilização sobre seus benefícios, ao combate à desinformação e até mesmo à habilidade de buscar soluções em cooperação com outros países. Esses aspectos foram defendidos por três especialistas – uma em saúde pública, outra em comunicação e o terceiro em relações internacionais – na segunda parte do webinário A corrida às vacinas: imunizar a população para controlar a pandemia, realizado na tarde desta quarta-feira, dia 20. O evento foi transmitido pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) da UFMG no YouTube e continua disponível na plataforma, que já registrou cerca de 2,8 mil visualizações.
Na abertura do painel, a professora Sheila Aparecida Ferreira Lachtim, do Departamento de Enfermagem Maternoinfantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem da UFMG, manifestou sua preocupação com os resultados de recente pesquisa do Instituto Datafolha, que revelou que a disposição do brasileiro para se vacinar caiu de 89% para 73%. O mesmo levantamento indicou que o número de pessoas que não querem se vacinar cresceu 22% no país.
“Esses dados nos fazem refletir sobre a importância da obrigatoriedade da vacina, uma vez que somente a vacinação em massa é capaz de gerar a imunidade coletiva, tão essencial para o controle da covid-19″, destacou Lachtim. Ela lembrou que o Brasil já conta com meios legais que podem ser usados para estabelecer a obrigatoriedade da vacinação. “O decreto-lei 78.231/76 diz que a vacinação pode, sim, ser obrigatória por determinação do Ministério da Saúde. Além desse decreto, a Constituição também sugere isso, ao preconizar que o direito coletivo se sobrepõe ao direito individual. Temos ainda a Lei de Enfrentamento à Pandemia, de 2020, que prevê o uso de medidas compulsórias para o seu enfrentamento. Quando falamos de obrigatoriedade, não estamos dizendo que a polícia vai entrar na casa das pessoas e vaciná-las à força. A ideia é recorrer a dispositivos legais capazes de ajudar a garantir ampla vacinação no país”, argumentou.
No caso brasileiro, a obrigatoriedade da vacinação conta com um aliado de peso: o Programa Nacional de Imunização (PNI), que existe há 47 anos. Segundo Sheila Latchim, o programa aproveita-se de uma rede de grande capilaridade, com mais de 250 mil pessoas capacitadas para aplicar vacinas, estrutura de que países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, não dispõem. “Somos capazes de chegar a todos os cantos do país – a pé, de carro, avião ou barco. A obrigatoriedade da vacina deve estar em pauta porque temos o desafio de fazer os hesitantes se vacinarem. O que está em disputa são as mentes, os corações e os braços dessas pessoas. Precisamos trabalhar nosso senso de coletividade”, conclamou.