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03 / abr / 2018
Instituto de Ciências Agrárias inicia cursinho comunitário em Montes Claros

O projeto vai preparar gratuitamente 60 estudantes de baixa renda para o Exame Nacional do Ensino Médio

O ingresso em uma universidade é um sonho para muitas pessoas após a conclusão do ensino médio. A ampla concorrência e as carências na qualidade do ensino público são desafios aos estudantes que desejam ingressar no ensino superior. Em Montes Claros, no Instituto de Ciências Agrárias (ICA), um grupo de estudantes da graduação decidiu contribuir com o conhecimento adquirido e propor melhorias para este contexto. Neste cenário, surgiu o Cursinho Comunitário do ICA, um projeto de extensão no campus regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) no município, que visa preparar candidatos de baixa renda para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) gratuitamente.

Nesta segunda-feira, dia 2 de abril, às 19h, foi realizada a aula inaugural do cursinho pré-Enem gratuito e sem fins lucrativos do ICA. O evento contou com a participação dos 60 estudantes do projeto e de seus familiares, além da equipe organizadora e outros interessados no projeto. De acordo com o vice-diretor do ICA e coordenador do projeto, Helder dos Anjos Augusto, a ideia é potencializar um público que possui poucas oportunidades a alcançar um direito consagrado pela Constituição Federal: o de acesso à educação. “É um projeto que partiu da iniciativa dos estudantes e a universidade abraçou a ideia e agora está sendo concretizado. O objetivo é criar condições para jovens carentes ingressarem na universidade pública federal”, explicou Helder.

Iniciaram nesta semana as aulas do cursinho pré-Enem gratuito e sem fins lucrativos do ICA. Foto: Amanda Lelis/UFMG

As aulas iniciaram nesta semana e permanecem até semana que antecede a prova do Enem. O curso será realizado dentro do campus do ICA, no Centro de Atividades Didáticas e Acadêmicas (CAAD), de segunda a sexta no período noturno. O projeto conta com 19 professores que atuam voluntariamente para ministrar as aulas. Grande parte da equipe é de estudantes de graduação do ICA. O vice-diretor do ICA explica que a iniciativa surgiu a partir da proposta e envolvimento dos estudantes da universidade.

O foco do projeto são candidatos ao Enem que sejam moradores dos bairros no entorno à universidade. Dos 60 estudantes selecionados para participar do projeto, parte deles cursa o ensino médio na Escola Estadual Helena Prates, do bairro JK; outra parte é formada por jovens indicados pela Associação Village Ativo, do bairro Village, e por filhos ou colaboradores e servidores da UFMG.

Na aula inaugural, o professor do ICA Maximiliano Soares palestrou sobre os desafios de se escolher o curso certo a seguir. Em sua apresentação falou sobre competência e aptidão, além de incentivar os futuros alunos do projeto com exemplos de profissionais que foram bem-sucedidos em suas escolhas profissionais.

O professor do ICA, Maximiliano Soares ministrou a aula inaugural do projeto. Foto: Amanda Lelis/UFMG

De aluno para professor

Luis Henrique Assunção e Isabela Paroles Martins estão à frente da equipe organizadora do projeto. Luis tem 21 anos e está no nono período do curso de Zootecnia e Isabela, de 19 anos, cursa o quinto período do mesmo curso. Eles contam que a ideia do projeto surgiu a partir do desejo de atuar junto à comunidade, propondo melhorias sociais com a participação de outros estudantes da UFMG.

Luis Henrique Assunção, Isabela Paroles e Helder dos Anjos, idealizadores do projeto. Foto: Amanda Lelis/UFMG

“Começou com uma ideia completamente nova e bastante ousada. Trabalhar com pesquisa ou extensão dentro da universidade é uma coisa, mas trabalhar o social e envolver a comunidade é uma responsabilidade muito grande”, contou Luis.

O estudante de Zootecnia explica que uma das propostas iniciais, quando o projeto começou a ser idealizado, foi o amplo envolvimento de alunos da graduação, a fim de agregar ao currículo uma experiência prática e social. “Gostaríamos de ter o máximo possível do envolvimento de alunos da graduação, pra que no currículo destes meninos tivesse uma questão muito importante mas pouco explorada hoje: o amadurecimento como ser humano. Eu acho que essa experiência vai ser gratificante e ter o contato com esta comunidade é a oportunidade para ter essa interação”, disse.

Isabela veio de Poços de Caldas, no Sul de Minas, para estudar no ICA. De acordo com ela, sua experiência pessoal incentivou a criação do projeto. “Eu vim de cursinho comunitário, estou na faculdade hoje porque na minha cidade tinha um projeto como este. Estudei em escola publica a vida inteira e, quando cheguei aqui, eu senti falta disso. As comunidades são carentes, mas os meninos têm uma vontade enorme de estudar. A gente foi falar com o Helder, que abraçou o projeto”, contou.

Helder explica que o acesso ao campus contribui para que mais jovens do município conheçam a UFMG em Montes Claros e saibam das oportunidades oferecidas. “Os jovens virem para o ICA para o cursinho é uma forma de eles compartilharem em seus espaços de origem de que a universidade tem espaço, e de que é um espaço público que eles podem participar e podem se envolver”, completou o coordenador do projeto.

Quando questionados do porquê de levar adiante a ideia do projeto, Isabela e Luis comentam sobre a importância de que a universidade esteja acessível a diferentes públicos e sobre a vontade de contribuir para a realização dos sonhos dos futuros alunos do cursinho. “Todas as pessoas que a gente conversou têm muitos sonhos. Acredito que nós, enquanto alunos de uma universidade federal, nosso objetivo e a nossa função é ajudar a comunidade. Não tem coisa melhor que ajudar alguém a realizar um sonho e dizer: eu fiz parte disso, consegui ajudar de algum jeito”, disse Isabela.

Neste ano, os dois jovens estudantes de graduação do ICA foram a Belo Horizonte para uma troca de experiências com a equipe o Equalizar, outro projeto de extensão da UFMG que é realizado desde 2012. Na visita, realizada no último mês, os jovens conheceram a iniciativa e aprenderam um pouco sobre os desafios e possibilidades com o projeto.

Serão duas turmas, totalizando 60 alunos, a maioria de bairros localizados no entorno do campus. Foto: Amanda Lelis/UFMG