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21 / set / 2018
Cosmologia e homeopatia rural no Norte de Minas é tema de seminário

Pesquisa analisa a relação entre homem e natureza nas práticas tradicionais da agronomia; o evento é gratuito e aberto ao público

Caderno de campo: a ilustração feita pelo pesquisador demonstra dispositivos tradicionais agroecológicos na Caatinga. Crédito: Sebastien Carcelle

No Norte de Minas Gerais, as práticas homeopáticas de alguns agricultores familiares congregam saberes tradicionais sobre a natureza e o meio ambiente e apresentam uma característica marcante: a relação entre energia e a percepção de saúde e bem-estar. Estes são alguns dos focos da discussão que será apresentada na próxima semana no Seminário “Pesquisar sobre a agroecologia no Norte de Minas nas correntes contemporâneas das Ciências Sociais”. O evento é realizado pelo Programa de Pós-graduação em Sociedade, Ambiente e Território, associado entre a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

O Seminário é gratuito e aberto ao público e será realizado na próxima terça-feira, dia 25 de setembro, às 14h, na Unimontes (sala 204, prédio 7). Na ocasião, Sebastien Carcelle apresenta resultados preliminares de sua pesquisa de Doutorado em Etnografia e Antropologia Social na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), em Paris. “O meu objetivo de pesquisa é tentar compreender a agroecologia não só como movimento social, mas também como ela se define: como uma ciência e uma prática. Para isso, resolvi fazer um estudo de campo etnográfico olhando não só os dispositivos das políticas públicas mas também as representações da natureza, tomando como objeto mais específico os saberes agronômicos que circulam entre os técnicos de campo e os produtores”, explica o pesquisador.

Durante oito meses, Sebastien acompanhou os técnicos do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas (CAA NM), em visitas a comunidades rurais do Norte de Minas, buscando compreender as informações e saberes compartilhados entre técnicos e agricultores. “Minha hipótese de trabalho é que a agroecologia era, em boa parte, uma renomeação da agricultura familiar, aqui no Norte de Minas e em outros lugares do Brasil, mas também com entrada de outros tipos de saberes e práticas agroecológicos que vêm de fora e se misturam com essa agricultura familiar”, disse.

De acordo com Sebastien, durante sua pesquisa, foram observadas práticas agroecológicas inovadoras, que integram à homeopatia técnicas e conhecimentos  como uso de biofertilizantes, de microrganismos eficientes ou os sistemas agroflorestais. O pesquisador acredita que o estudo da homeopatia rural pode contribuir para pensar essas novas práticas agronômicas, observando as representações da relação do homem com o meio ambiente e com entidades “não-humanas”. “O que mais me surpreendeu foi essa questão da energia. O princípio que cura na homeopatia, e na homeopatia rural, é a energia. Achei isso bem interessante e simbólico, pois demonstra a representação que têm os produtores sobre o papel deles na natureza e da sua relação com o meio ambiente”, contou o pesquisador.

Seminário

Os encontros são oferecidos em uma das disciplinas do Programa e propõem abrir discussões de temas relevantes no campo de atuação do Mestrado em Sociedade, Ambiente e Território, com a participação de diferentes palestrantes, entre acadêmicos, técnicos e lideranças de comunidades rurais ou tradicionais. Serão 10 seminários até dezembro, sempre nas tardes de terça-feira.

O convidado desta edição, Sebastien Carcelle é Engenheiro Agrônomo e foi professor de Humanas para engenheiros em Lille, na França, e é mestre em Etnografia e Antropologia Social na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (EHESS), em Paris. A pesquisa que será apresentada, desenvolvida em seu Doutorado, foi iniciada em janeiro de 2017.