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25 / jun / 2020
Comunidades das engenharias e exatas defendem práticas inovadoras e inclusivas

Na terceira edição do fórum que discute a volta das atividades acadêmicas, professores e estudantes abordaram alternativas para o ensino remoto

Professores e alunos dos cursos de engenharias e de ciências exatas discutiram alternativas para retomar as atividades didáticas em meio à pandemia de Covid-19, em fórum on-line realizado na tarde desta quarta-feira, dia 24.

Na abertura do encontro, promovido pelo programa Integração Docente, a pró-reitora de Graduação, Benigna de Oliveira, destacou a importância da iniciativa e a necessidade de tratar das ferramentas e métodos de ensino, sem desconsiderar questões que podem afetar a comunidade acadêmica neste momento. “Temos que pensar nas diversas situações de vulnerabilidade, os estudantes que são mães, pais, com deficiências, os indígenas, mas não podemos deixar de lado a qualidade, que sempre foi uma marca da UFMG”, defendeu.

No primeiro bloco do fórum, mediado por Cristina Alvim, presidente do Comitê de Enfrentamento do Coronavírus na UFMG, e Bruno Teixeira, pró-reitor adjunto de Graduação, docentes apresentaram suas experiências e impressões sobre o uso de recursos didáticos digitais nas disciplinas que ofertaram.

O professor Luis Antonio Aguirre, do Departamento de Engenharia Eletrônica, revelou que começou a gravar videoaulas em 2015, como material de apoio para as atividades presenciais, e hoje conta com acervo de cerca de 180 vídeos, disponíveis no seu canal no YouTube. Para produzir o material, Aguirre norteava-se por regras para manter a simplicidade do processo, como não usar efeitos sofisticados, motivar a resolução de problemas, resolver exemplos e limitar a duração das gravações a 15 minutos.

Indicado para estudantes que faltaram à aula e gostariam de rever as explicações e para abordar os assuntos com mais detalhes, os vídeos geraram mais engajamento entre os alunos, que passaram a participar mais das discussões. “O vídeo é uma faca de dois gumes: ele pode dar a impressão de que substituiu o tempo de estudo individual, o que não é verdade. Isso se reflete nas avaliações”, alerta o professor.

Luiz Aguirre:
Luis Aguirre: vídeo não substitui o tempo de estudo individualRaphaella Dias / UFMG

Outro docente com experiência na oferta de disciplinas a distância e semipresenciais, Ernani Sales Palma, da Engenharia Mecânica, relatou que tomou duas providências para ingressar no universo do ensino virtual: fez um curso de produção de materiais didáticos para EaD, oferecido pelo Caed, e privilegiou metodologias ativas de ensino, utilizando a plataforma Moodle e o estudo prévio das lições pelos alunos.

“Não funciona usar somente as videoaulas. É importante reunir um conjunto de materiais específicos para ensino remoto, com textos, fóruns, exercícios on e off-line e um guia de estudos, que é essencial”, avalia o professor, que atribui a queda de 13% para 5% na evasão nas matérias semipresenciais a métodos que promovem maior envolvimento dos estudantes.

Competências específicas
Para Lucas Wardil, professor do Departamento de Física, a pandemia e o consequente isolamento social vão transformar o processo de ensino-aprendizagem e podem abrir novas possibilidades pedagógicas. Ele tem estruturado a disciplina Fundamentos de eletromagnetismo, presente nas matrizes do ciclo básico dos cursos de exatas e engenharias, em “centros de habilidades”, nos quais as lições visam desenvolver competências específicas, como a resolução de problemas. “Essa é uma oportunidade para pensar nos objetivos das disciplinas, no que eu quero que os alunos aprendam. A ementa tem de ser cumprida, mas como eu vou destilar esse conteúdo é algo que precisa ser estudado”, ponderou ele, que mantém um site com dicas e tutorais.

Encerrando as apresentações do bloco, Renato Ferreira, do Departamento de Ciência da Computação e vice-diretor do ICEx, ofereceu dicas sobre as ferramentas e os softwares usados para gravar as aulas, como tablet ou iPad, o LonelyScreen, para captura de tela, o OBS Studios, para gravar vídeos, o Jamboard e o Collaboard, que simulam lousas. Uma sugestão, mais barata e eficaz, é escrever em folha de papel e gravar com uma webcam ou com o celular.

Apesar dessas inovações, Renato Ferreira considera fundamental que o ambiente de aprendizagem seja utilizado. “O Moodle é interessante porque permite oferecer um roteiro das aulas, por unidades, e também pela interatividade, porque é por lá que os alunos vão fazer perguntas e esclarecer dúvidas”, justifica.

Thomaz: reflexão sobre os riscos da implantação do ensino remoto
Thomas: reflexão sobre os riscos da implantação do ensino remotoRaphaella Dias / UFMG

Incerteza
Os graduandos Guilherme Ximenes, de Engenharia de Sistemas, e Thomas Carrieri, de Matemática, falaram sobre as angústias e expectativas dos estudantes nesse período.

“O sentimento dos alunos é de incerteza, ansiedade e frustração. A gente sofre esperando para ver o que vai acontecer e sabe que os professores também sofrem com isso”, disse Guilherme. Vice-presidente do Diretório Acadêmico da Escola de Engenharia, ele manifestou sua preocupação quanto ao formato das avaliações e o desejo de que as aulas fossem gravadas, para permitir o acompanhamento de alunos com rotinas diferentes.

Thomas, que é membro das atuais gestões do Diretório Acadêmico do ICEx e do Diretório Central dos Estudantes (DCE), propôs uma reflexão sobre os riscos de implantação do ensino remoto, como o de aumento da evasão, o da exclusão de alunos que não têm acesso a meios tecnológicos e o de haver pouco tempo para as adequações didáticas necessárias, além de sugerir que se considere o próprio contexto da pandemia. “A pressão é muito pesada: estamos privados dos círculos sociais, não sabemos o ambiente em que as pessoas estão, se dispõem de proximidade com a família, se têm espaço para estudo e liberdade de uso da internet e dos aparelhos. A Universidade tem 30 mil estudantes de graduação. Temos de pensar que são muitos os cenários”, argumentou.

A terceira edição do fórum on-line foi transmitida, com tradução em Libras, pelo canal da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) no Youtube, onde sua gravação está disponível.