O uso de frutos do cerrado na culinária foi o tema central desta edição do evento
Segundo maior bioma da América do Sul, o Cerrado abriga milhares de espécies de animais e plantas que só existem nessa região. São mais de 14 milhões de pessoas que vivem nesta área, muitas das quais dependem da agricultura e da pecuária para sobreviver e ajudar a economia a crescer. Somente no Norte de Minas, cerca de 60 mil famílias vivem do agroextrativismo.
Todo o potencial dos frutos deste bioma na gastronomia foi abordado durante a terceira edição do Seminário de Frutos do Cerrado, realizado no campus do Instituto de Ciências Agrárias da UFMG em parceria com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e Funorte. “A proposta [de abordar este tema] surgiu durante o segundo seminário. Ao final do seminário a gente fez uma discussão com a comunidade, os agricultores extrativistas que estavam aqui. Então, surgiu a ideia de fazer um seminário dedicado à questão da cultura, da gastronomia, da alimentação escolar também, olhar para a outra ponta da cadeia”, afirma o professor do curso de Engenharia de Alimentos e coordenador do evento, Fausto Makishi.
A programação se estendeu por todo o dia. Pela manhã, foi realizada uma mesa redonda com moderação da chef Bernadete Guimarães sobre o uso de frutos do cerrado na gastronomia.
O designer e comunicador Marcelo Podestá falou sobre os trabalhos desenvolvidos com o SlowFood em Belo Horizonte, uma comunidade que promove a cultura dos alimentos agroecológicos locais e a biodiversidade mineira.
A professora da Universidade Federal do Tocantins, Thamirys Andrade, falou sobre o projeto de extensão GOsTO Cerrado, responsável pelo Festival Gastronômico de Arraias.
A agroextrativista de Januária, Vicentina Bispo, falou sobre a linha de produtos desenvolvidos por ela que vão desde a farinha de pequi a barrinhas de cerais com insumos do cerrado.
À tarde, foi realizada mais uma mesa redonda, desta vez com o tema “Produtos do Cerrado: Do local para o mundo”. Foram abordados temas como a inclusão de frutos do cerrado na alimentação escolar e a importância do marketing digital para dar visibilidade aos produtos da sociobiodiversidade.
Em seguida, os participantes puderam aprender na prática receitas com frutos do cerrado em duas aulas show realizadas no campus. Vicentina Bispo ensinou como fazer barrinhas de cerais, além da farinha ela usou a castanha do pequi. “Eu fiz uma mistura da castanha, da farinha do pequi, da farinha do jatobá, gergelim, açúcar mascavo, linhaça e mel”, contou.
A nutricionista Gislene Ribeiro provou a barra de cereal e aprovou. “Quando ela falou, eu já fiquei com uma curiosidade muito aguçada para poder experimentar, é uma delícia”, garante.
Além de ensinar a fazer cookies de baru e croquete de frango com molho de pequi, a professora da UFT, Thamirys Andrade, ensinou como produzir extrato de baunilha e a aromatização de cachaças. A ideia é fazer com que as pessoas utilizem cada vez mais os frutos do cerrado no prato, porque utilizando os frutos do cerrado no prato a gente passa a valorizar o cerrado. Se a gente valoriza o cerrado, a gente valoriza o nosso território, o nosso habitat e também os povos que dele vivem e que mantem esse cerrado de pé”, afirma.
Diversidade de possibilidades que impressionou até mesmo quem se dedica à area, como a estudante do décimo período do curso de Engenharia de Alimentos, Stefany Silveira. “O que mais me surpreendeu aqui, foi a amplitude que a gente tem dentro do cerrado. A gente conhece os básicos: coquinho, pequi… Mas a macaúba que a gente conheceu aqui, o uso dessa castanha do pequi, eu nunca tinha ouvido falar dessa aplicabilidade. É uma coisa tão gostosa e tão boa pra nossa saúde, tão nutritivo, que é importante a gente aprofundar mais, ir mais à fundo sobre esses produtos”, explicou a acadêmica.
O seminário foi realizado de forma híbrida, com transmissão ao vivo pelo canal da Codevasf na internet. Tudo o que aconteceu no evento está disponível no canal da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e Parnaíba.
(Ana Cláudia Mendes/UFMG)